sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Um estranho poder

Como então observar além do que os olhos podem ver? Um mergulho  na feitiçaria e na magia, talvez fosse um bom começo. Quem sabe eu encontraria lá as respostas que eu tanto procurava. A sede por aventuras e pelo sobrenatural  estava apenas começando e a fome de conhecimento somadas as experiências que eu acabava de experimentar me fizeram cair de cabeça na longa estrada da busca espiritual. Eu precisava encontrar a verdade. Precisava me encontrar e estabelecer, melhor dizendo, restabelecer a minha verdade.
Algo estranho começou a acontecer. Parecia uma força, um poder, sei lá. Eu não estava entendendo. Com o passar do tempo e descobri que havia uma força sobrenatural em meu olhar. Uma força como que subjugava pessoas e circunstâncias. Não se tratava de um olhar   sedutor, era  mais do que isso. Um olhar  que aprisionava as circunstâncias.  Era como que se eu pudesse manipular os sentimentos e os acontecimentos à minha volta. A sensações  que eu tinha eram como que portas se abrindo nas regiões espirituais na minha vida e na dos outros. Criava vínculos. Parecia não controlar mais as situações que se desencadeavam na sequência dos acontecimentos. É claro que era uma adolescência bem diferente, marcada por momentos  estranhos, difíceis e dolorosos, mas ao mesmo tempo novo, forte e fascinante. Essa força me fazia sentir coisas novas.

Dois anos depois

o me parecia ter passado tanto  tempo. Talvez eu nem tivesse a percepção da rapidez com que a vida passa. Dezenas de livros, como as aventuras instigantes de " O velho e o mar" de Ernest Hemingway, o encanto de "Longe é um lugar que nãexiste" de Richard Bach, "O Pequeno Príncipe" e  " Terra dos Homens" de Saint-Exupéry, que percebia a vida do alto da sua solidão e cuja morte cercada de mistérios - seu avião caiu no mar e até hoje não foi encontrado - me fascina e me intriga.  Carlos Castanheda e sua literatura xamânica, Dom Juan e suas feitiçarias, entre tantos outros,  já faziam parte do meu imaginário. Experiências incomuns e assustadoras habitavam minhas lembranças mais recentes, como um rio turbulento deslizando sobre o leito esguio das minhas memórias. Eu podia sentir. Havia um vasto oceano mais a frente onde desaguariam os anos seguintes da minha trajetória.Só não sabia o quão obscuros seriam, como quem toma o primeiro gole de cerveja sem imaginar que pode terminar seus dias afundado no alcoolismo. A adrenalina da existência não parava de irrigar a minha alma. A intensidade das descobertas sugeriam um futuro de riqueza espiritual com a qual em jamais havia sonhado. Mas estava acontecendo e era  bem real.
Um dos primeiros livros que li entre doze e quatorze anos aguçou minha sede por aventuras e pelo desconhecido. As experiências vividas por  um feiticeiro mexicano com a mescalina, droga extraída do cacto conhecido como peiote e usada em rituais religiosos, mexeu com minha curiosidade e acelerou minha imaginação.
Experimentar aquilo seria, definitivamente, o auge da minha busca. Uma força estranha me atraía para dentro do universo da magia. Havia alguma coisa do outro lado da vida e eu queria experimentar.